Óscares

O choque aconteceu em Hollywood: "Moonlight" ganhou o Óscar de Melhor Filme.
Mas a sua vitória nunca mais será esquecida e não é apenas por ter ganho ao favorito "La La Land": é que o musical foi anunciado primeiro como Melhor Filme por Warren Beatty e Faye Dunaway e depois de estar toda a gente no palco e já a discursar, percebeu-se o erro.
Houve uma troca de cartões e o vencedor real era "Moonlight": a situação é inédita na história dos Óscares.
O filme ganhou ainda os prémios de ator secundário para Mahershala Ali e argumento adaptado.
Já o musical partia com 14 nomeações e acabou por ganhar seis Óscares: Realização (Damien Chazelle, que, com 32 anos, se torna o mais jovem vencedor de sempre), Atriz (Emma Stone), Direção Artística, Fotografia, Banda Sonora e Canção (para "City of Stars").
O palmarés acabou por evitar o domínio completo ao distribuir a "felicidade" por vários filmes.
"Manchester by the Sea" conseguiu os Óscares de Melhor Ator para Casey Affleck e Argumento Original e "O Herói de Hacksaw Ridge", os de Mistura de Som, o que significa que à 21ª nomeação acabou o azar de Kevin O'Connell, e, mais surpreendente, o da Montagem.
Já "Vedações" valeu o esperado Óscar a Viola Davis como Atriz Secundária.
A cerimónia, marcada pela celebração dos filmes do ano passado mas também da memória do cinema, também não fugiu à atual realidade política nos EUA.
Em vários discursos estiveram os apelos à igualdade, diversidade e tolerância, à importância dos emigrantes e liberdade da imprensa, mas logo após Justin Timberlake abrir a cerimónia com “Can’t Stop The Feeling”, de "Trolls", colocando todo o público no Dolby Theatre em pé a cantar e dançar, o anfitrião Jimmy Kimmel fez do presidente Donald Trump um dos alvos do seu monólogo.
Notando que muitos lhe pediram para abordar a cisão que existe no país, esclareceu que não o podia fazer: "Apenas existe um 'Braveheart' na sala", apontando para Mel Gibson, que interpretou o martirizado William Wallace no filme que ganhou os Óscares de 1995. "E ele também não nos vai unir", acrescentou, abordando subtilmente a controvérsia em redor da estrela perante o riso do público.
Logo a seguir, Kimmel ficou sério e disse que se todos os que estiverem a assistir à cerimónia "pararem um momento para ir ao encontro de uma pessoa com quem não concordam e terem uma conversa positiva e ponderada... podemos realmente tornar a América outra vez grande".
 O anfitrião mostrou disponibilidade para enterrar o machado de guerra, mas acabou por gozar logo a seguir com o facto de Damon ter desistido de fazer "Manchester by the Sea" para fazer "um filme chinês de rabo de cavalo e esse filme acabou por ir perder 80 milhões de dólares".
Ainda assim, a noite acabou por ser mais politicamente mais moderada do que previam algumas antecipações da cerimónia.
O momento mais simbólico acabou por ser a atribuição do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro a "O Vendedor", do Irão: o seu realizador, Asghar Farhadi, que repete a vitória de há cinco anos por "Uma Separação", não estava presente por respeito ao seu povo e ao de outros seis países visados pela lei anti-emigração aprovada por Donald Trump, A sua representante leu um discurso muito crítico em relação às políticas do presidente norte-americano.
Também marcante foi o momento em que os vencedores do Óscar de Melhor Curta-Metragem por "The White Helmets" recordaram a mortífera guerra civil na Síria e o público se levantou em memória das suas vítimas.