Penas Surf
Podia ter começado aos 14, mas não o fiz.
As escolhas da adolescência estavam mais concentradas em tornar-me uma cidadã estudiosa. Achava eu que isso era tudo. Óbvio que faz parte, mas não é tudo.
Limitei-me. Só me dediquei à nataçao, à dança e à limpeza da casa. Como se o meu futuro fosse a certificar a existência de pó ou não em cima dos objetos.
Claro que com a idade a gente amadurece. Claro que com a idade conhecemos pessoas que nos desafiam. Claro que com a idade damos valor a alguns desafios e outro valor a algumas pessoas que nos propões desafios.
Claro que com a idade sabemos o que queremos e quem nos acompanha e direcciona.
Claro que aos 41 não é a idade para iniciar o surf, principalmente porque não vejo a ondulação do mar como se fosse a minha melhor amiga.
Mas foi a ondulação da vida aos 41 que me fez arriscar, ousar, vestir o fato, pegar na prancha e entrar no mar.
2 de Agosto. Fomos 2. Chegamos às 2 horas. O enlace durou 2 horas e prometi que seria para sempre.
Fomos da escola que fica em Matosinhos até à praia do aterro, em Leça da Palmeira.
O professor Penas explicou-me tudo como se eu fosse adulta nesta matéria de ondas, mas senti medos de uma criança. Não lhe disse nada. Peguei na confiança dele em mim e fiz-me à sua imagem.
Ao entrar na água eu disse para mim própria: " Mundooooo, que seja o que Deus quiser".
Deus quis. Que eu fizesse 3 ondas de pé, que desse meia dúzias de tombos, mas que ficasse agarrada à prancha, como o bichinho da madeira fica nos móveis.
Rendi-me e agora estou lixada com F.
Mais uma mensalidade para os encargos domésticos.
Mérito da escola, do professor Penas e daquela prancha que me provou que em alto mar não se pensa em mais nada que não seja, apanhar a próxima onda, remar, remar, e ficar em cima da prancha!
Equlibrio exige-se. Olhar em frente também.
É assim no surf e na vida.
Que sensação de poder, de liberdade e de músculos doridos.
Amei desafiar o mar. Amo desafiar a vida e levar-me ao limite.