Nua
Que a vida a nossa. Que correria todos os dias.
Sinto-me exausta.
Sem forças para compras, para receber amigos, cansada do ritmo louco do trabalho.
Cansada de ser forte.
Apetece-me vestir algo prático, sapato confortável, e sair....não ter responsabilidades, não ter horas para comer nem para dormir...não ter compromissos sociais.
Não me apetece pensar, pois quero viver na ignorância. Por uns tempos. Não quero decidir se tomo chá ou café, se meto gasóleo ou gasolina, qual a música que está a passar na rádio, se recebi e mails importantes ou não, ser vou comer arroz ou massa.
Não quero saber de novidades do mundo. Não quero tirar conclusões. Não quero sequer ter de dizer Bom dia ou até amanhã. Hoje quero estar comigo. Só.
Quero apenas ajustar-me. Alinhar-me. Ser inteira e descansar. Férias em Dezembro exigem-se.
Quero -me validar como o banco de Portugal valida as notas que estão em circulação.
Não quero saber do cupido. Nem do meu nem dos outros.
Quero namorar-me, como se estivesse no inicio do namoro em que tudo está no nível "Muito bom".
Quero estar. Aproveitar o momento, como se aproveita a noite de núpcias. Quero desenvolver a paixão para depois ter o casamento.
Quero despir-me de tudo e saltar para o abismo num lago desconhecido. E concluir no final que nunca me deveria ter molhado. Ou até concluir que o melhor que me aconteceu foi ter engripado.
Assim cuidarão de mim.
É apenas hoje, só hoje que preciso de nada decidir, nem de dar respostas.
Amanha volto. Animada e recuperada.
Há dias assim. Esfriados.