Olhar


     O medo corta a alma.

   Pode ser muita carga para um só dia. Não apetece olhar lá para fora. Pensas na tua lista de introspecções daquele ano, nos bocadinhos de memórias e pleitas a igualdade, em jeito de feitio bem mimado, o nada querer fazer, saber, apenas ficar. Bem quieto. 

    Ao som da tua casa, daquele lugar que te alberga e te cobre do futuro, flutuas. A manta não chega para cobrir dos pés à cabeça, mas ali, tu arranjas o teu raio de sol que  aquece, pois o verdadeiro raio solar teima em não entrar pela janela estes dias. 

    Sem pressas porque a hora está sempre marcada no ponteiro do relógio da sala. Para ti tanto faz como fez que o tempo seja já tardio. É contigo que vais ficar. 

  Adormeces como quem é embalado nos braços da mãe. E nesse momento esqueces, descansas e acalmas....porque sabes que és o Rei do teu mundo e mesmo que esse nome seja cheio de aparato e aparentes luxos, não precisas desse registo como identidade. Acenas com a cabeça afirmativamente a esta versão da história quando pensas a tua realidade. Hoje não te apetece olhar para o mundo nem cruzar com pessoas estranhas na rua.

    Fica em casa, fertilizas ideias e olhas só quando estiveres pronto a ver.

    O tempo é sempre teu, com  metros de quadrados a menos para vontades a mais. Quem manda na casa sou eu. Em ti também.

    A ordem é de embarque, mesmo na incerteza se a preguiça passa ou se a mente vai ser eternamente caseira.  

    A janela está sempre a um passo de ti. Olha-te. Quando estiveres pronto a sair.

6 de jan de 21